O fanzine Quadrante Sul pode ser considerado uma experiência histórica de produção coletiva. Surgido no final da década de 80 do século passado pela união de três fanzineiros da região metropolitana de Porto Alegre, Alexandre Fontoura Doeppre, do zine Antimatéria, de Novo Hamburgo, Denilson Rosa dos Reis, do zine Tchê, de Alvorada, e Gervásio Santana de Freitas, do zine Estilo, de Sapucaia do Sul, que tinham como objetivo dar um passo rumo à profissionalização dos quadrinhos editados em seus respectivos fanzines.
Henrique Magalhães, em seu livro “O Que é Fanzine” (São Paulo: Brasiliense, 1993), aponta quatro fases na história da publicação de fanzines no Brasil, que seriam: a fase dos pioneiros (1965-1976), a fase da consolidação (1977-1982), a fase da expansão (1983-1986) e , finalmente, a fase da crise na produção dos fanzines (virada da década de 1980 para 1990).
A experiência do Quadrante Sul enquadra-se na quarta fase classificada por Magalhães. Pois, quando surgiu a idéia de um trabalho coletivo, esta veio pelas dificuldades que os fanzineiros citados estavam encontrando para realizar um trabalho com melhor qualidade gráfica e buscar uma profissionalização de suas publicações.
Um grupo de fanzineiros e desenhistas reunia-se aos finais de semana para troca de experiências e bate-papo informal, ora na casa do Gervásio, ora na casa do Denilson, onde participavam, além dos dois citados, Jerônimo Fagundes de Souza, Daniel Horn da Rosa e Paulo Ricardo Abade Montenegro, todos de Porto Alegre. Além de terem por objetivo reunirem-se, queriam também um aprofundamento de seus trabalhos com uma edição mais profissional. Após muito bate-papo e troca de experiências, passou-se a cogitar uma união de todos para a edição de um trabalho de qualidade que marcasse a história da fanedição no Brasil. Publicar-se-ia os trabalhos do grupo, dos colaboradores de cada fanzine, e seriam feitos contatos com profissionais dos quadrinhos que pudessem colaborar para o enriquecimento da publicação.
Já no início, Jerônimo, Daniel e Paulo optaram por não serem editores da revista, devido a questões pessoais ligadas à falta de tempo, mas propuseram-se a estar juntos na caminhada como colaboradores permanentes. Alexandre, Denilson e Gervásio deram um tempo em seus zines para dedicarem-se exclusivamente ao Quadrante Sul.
O primeiro número de uma série de três publicações trazia capa do profissional dos quadrinhos E. C. Níckel, que publicava com destaque seus personagens em revistas da Press Editorial, editora de São Paulo responsável por manter um mercado de quadrinho nacional na década de 80.
Além de Níckel, participaram do zine Henry Jaepelt, certamente o desenhista que mais produziu quadrinhos alternativos de qualidade no Brasil; Laudo Ferreira Júnior, hoje desenhista profissional reconhecido no meio editorial brasileiro; e os colaboradores dos fanzines que deram origem ao Quadrante Sul e do grupo que formava a revista.
O fato de o Quadrante Sul ser citado nos trabalhos acadêmicos de Henrique Magalhães sobre a História dos Fanzines no Brasil mostra que a revista foi uma experiência histórica, fruto de toda uma conjuntura de crises que vivia a fanedição no Brasil do final da década de 80 e início de 90.
Denilson Rosa dos Reis é professor de história, músico e fanzineiro
* Matéria originalmente publicada na revista Casa das Máquinas #1, do Diggiti Studio, em 2007.
Um comentário:
Só gostaria de agradeer a postagem deste meu artigo publicado na Csa das Máquinas.
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